
Qual a melhor hora para consultar seu médico?
À primeira vista essa pergunta pode parecer sem pés nem cabeça. Porém, um trabalho recente apresentado no JAMA Network Open mostra que essa questão é perfeitamente pertinente. Para investigar a influência do horário de atendimento no rastreio de câncer de mama e de cólon, uma pesquisa foi feita com um grupo homogêneo de médicos e pacientes. Algumas observações puderam ser feitas.
Nas primeiras consultas da manhã, 64% das mulheres elegíveis para a detecção de câncer de mama foram encaminhadas para fazer uma mamografia. Isso diminuiu para 48% no horário das 17 horas. Observou-se um padrão semelhante na detecção do câncer de cólon: às 8 horas, 37% dos pacientes foram encaminhados para uma colonoscopia enquanto que às 17 horas apenas 23%.
A mesma tendência se observa nos pacientes. Um ano depois, aqueles que tinham passado em consulta no final da tarde eram menos assíduos a efetuar os exames solicitados. Essas falhas nos cuidados preventivos não se limitou ao rastreamento de câncer. Em outro estudo tendências semelhantes foram observadas com a vacina da gripe.
Outro exemplo foi visto nas consultas de cuidados primários onde as taxas mais altas de prescrição desnecessária de antibióticos era nas consultas do final do dia, da mesma forma que a prescrição de opióides para dor nas costas. Há até evidencias de que os profissionais da saúde lavam as mãos com frequência menor no final do dia. Dois fatores podem explicar esses fatos. Em primeiro lugar o fenômeno conhecido como fadiga de decisão. É a tendência de fazer opções mais simplistas depois de um período longo de tomada de muitas outras decisões. Esse princípio é adotado na maioria dos supermercados que colocam balas e guloseimas junto aos caixas. Depois de tomar muitas decisões sobre quais alimentos comprar, os consumidores fazem escolhas menos saudáveis no final das suas compras.
A fadiga de decisão provavelmente afeta médicos e pacientes de maneira semelhante. Como os médicos tomam uma série de decisões durante todo o dia, essa fadiga pode levá-los a diminuir o envolvimento em discussões com os pacientes no final da tarde. Os pacientes por sua vez, também tomam decisões ao longo do dia seja nas suas casas seja no seu trabalho; quando questionados sobre um procedimento no final do dia, têm a propensão de adiar a decisão.
Um outro fator é o horário dos médicos. Suponhamos que um médico dispõe em média de 15 minutos para atender um paciente. Se ele se atrasar e nos últimos 30 minutos tiver que atender ainda quatro pacientes, as consultas são apressadas e muitas decisões não são levadas em conta. Os pacientes também podem estar com pressa de chegar em casa. Algumas atitudes simples podem ser adotadas para minimizar essas diferenças.
Decisões repetitivas, como perguntar aos pacientes durante a temporada de gripe se foram vacinados, podem ser transferidas para a auxiliar do médico que abre a ficha do paciente. Se a resposta for negativa este é imediatamente orientado para vacinação. Esse tipo de abordagem aumentou em 10% o índice de vacinação contra a gripe.
A conclusão desses trabalhos é que apesar das decisões tomadas no final do dia serem inferiores à do início, medidas simples e novas abordagens podem minimizar essas diferenças e tornar o fator horário irrelevante.
